Em momentos de aperto financeiro, a tentação de recorrer aos recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para saldar dívidas pode ser grande. Afinal, essa reserva representa uma oportunidade, que poderia aliviar a tensão devido às dívidas. No entanto, especialistas alertam que essa decisão requer cautela e planejamento para evitar consequências indesejadas.
Entendendo as regras para saque do FGTS
É preciso compreender em quais situações o trabalhador pode solicitar o resgate de seus recursos no FGTS. Conforme as diretrizes da Caixa Econômica Federal, responsável pela gestão do fundo, os saques só são permitidos em circunstâncias específicas, como demissão sem justa causa, rescisão por acordo, término de contrato por prazo determinado, falecimento do empregador, falência da empresa e o saque-aniversário.
Outras situações que permitem o saque incluem aposentadoria, necessidade pessoal urgente e grave decorrente de desastres naturais, suspensão do trabalho avulso, doenças graves como câncer ou HIV, estágio terminal, conta inativa por três anos ininterruptos, aquisição de órteses e próteses.
Saque aniversário versus saque rescisão
O trabalhador pode optar por duas modalidades principais de saque: o saque-aniversário e o saque-rescisão. No primeiro caso, ele pode retirar anualmente uma parcela do saldo de sua conta no FGTS, cujo valor é determinado por uma alíquota que varia de 5% a 50%, mais uma parcela adicional conforme o saldo total.
Por outro lado, o saque-rescisão é a opção padrão quando o trabalhador é demitido sem justa causa, permitindo-lhe sacar integralmente o saldo em sua conta, incluindo a multa rescisória devida. É importante ressaltar que o trabalhador deve escolher apenas uma dessas modalidades, pois elas são mutuamente exclusivas.
Avaliando a viabilidade de usar o FGTS para quitar dívidas
Embora possa parecer uma solução tentadora, os especialistas recomendam cautela ao considerar o uso do FGTS para quitar dívidas. A principal consideração é a taxa de juros que o trabalhador está pagando em seus compromissos inadimplentes.
“Se os juros forem muito altos, como no caso de cartão de crédito ou cheque especial, usar o FGTS pode ser uma opção viável para se livrar dessas dívidas e recomeçar”, explica Camila Poltronieri Flaquer, responsável pela área de cobrança digital da Recovery.
No entanto, ela enfatiza a importância de ter um plano financeiro para evitar cair em novas dívidas após a quitação. Afinal, o FGTS é uma espécie de suporte, e sacar seus recursos pode deixar o trabalhador desprotegido em caso de emergências ou planos futuros, como a compra de um imóvel.
Analisando os riscos envolvidos
Além de possivelmente reduzir o saldo do FGTS, os especialistas alertam para outros riscos associados a essa decisão. Leticia Camargo, planejadora financeira certificada, destaca que o trabalhador pode ficar desprotegido para sua aposentadoria ou, no caso do saque-aniversário, não poderá resgatar o saldo remanescente se for demitido sem justa causa.
Outro perigo é que, mesmo após quitar as dívidas com o FGTS, o trabalhador pode voltar a acumular novos débitos se não conseguir reorganizar suas finanças de maneira eficaz. “Se a dívida for causada por um comportamento financeiro descontrolado, há o risco de que, mesmo após a quitação, o problema persista e novas dívidas sejam acumuladas”, alerta Wanessa Guimarães, sócia da HCI Invest.
Passos importantes antes de optar por usar o FGTS
Para evitar armadilhas financeiras, os especialistas recomendam uma série de medidas antes de decidir sacar os recursos do FGTS para quitar dívidas.
- Organize seu orçamento e faça um balanço financeiro: O primeiro passo é colocar todas as contas na ponta do lápis, listando seus ganhos, despesas fixas e dívidas inadimplentes ou em aberto. Esse panorama permitirá identificar possíveis saídas para reorganizar suas finanças e avaliar se o saque do FGTS é realmente necessário.
- Avalie alternativas e tenha um planejamento: Antes de tomar uma decisão, é essencial considerar outras opções e elaborar um planejamento financeiro. Lembre-se de que sacar os recursos do FGTS pode deixá-lo desprotegido para emergências futuras ou planos de longo prazo, como a compra de um imóvel.
- Identifique os juros de suas dívidas: Se, após uma avaliação criteriosa, o saque do FGTS parecer inevitável, priorize os débitos com taxas de juros mais altas, como cartões de crédito ou cheque especial. Isso evitará que essas dívidas se tornem uma bola de neve ainda maior.
- Renegocie com seus credores: Não deixe de listar todas as suas dívidas, sejam elas inadimplentes ou em aberto, e entrar em contato com os credores para tentar uma renegociação. Com seu orçamento organizado, você poderá propor parcelas mais brandas e gerenciáveis.
- Busque uma renda extra, se necessário: Em alguns casos, pode ser necessário buscar fontes adicionais de renda para equilibrar as contas. Analise sua situação financeira geral, identifique as causas do endividamento e planeje medidas para evitar que o problema se repita.
- Mantenha uma reserva financeira: Mesmo após quitar suas dívidas, é fundamental manter uma reserva financeira para eventuais emergências. Os especialistas recomendam que essa reserva seja equivalente a seis meses a um ano de despesas.
- Pesquise e se informe sobre o tema: Por fim, não deixe de buscar mais informações sobre como melhorar sua saúde financeira. A internet oferece uma vasta gama de recursos, como aplicativos, planilhas e vídeos educativos, que podem ajudá-lo.