A transparência nas operações financeiras é uma prioridade global, e o Brasil tem acompanhado essa tendência por meio de medidas que visam fortalecer o combate à evasão fiscal e promover a conformidade tributária. Recentemente, a Secretaria da Receita Federal anunciou uma nova instrução normativa que expande significativamente a fiscalização das informações coletadas sobre movimentações financeiras de pessoas físicas e empresas.
Abrangência da fiscalização da Receita Federal
Historicamente, os bancos e outras instituições financeiras tradicionais eram obrigados a enviar mensalmente à Receita Federal informações consolidadas sobre os valores totais de débitos e créditos por conta e contribuinte. No entanto, a nova normativa estende essa obrigatoriedade a outras entidades, como administradoras de cartão de crédito e instituições de pagamento, a partir de 2025.
Declaração e-Financeira
Essas informações adicionais serão transmitidas por meio de uma declaração semestral denominada “e-Financeira“, que faz parte do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped). Essa medida representa uma evolução tecnológica contínua no processo de coleta de dados pela Receita Federal, substituindo a antiga Declaração de Informações sobre Movimentação Financeira (Dimof), descontinuada em 2016.
Limites de valor para transações com Cartões de Crédito
A exigência de declaração na e-Financeira será aplicada quando o valor total movimentado em cada mês, por tipo de operação financeira, exceder determinados limites:
- R$ 5 mil para pessoas físicas;
- R$ 15 mil para empresas.
Abrangência das Informações
Embora as instituições não precisem informar transferências bancárias específicas, a e-Financeira cobrirá dados abrangentes sobre movimentações financeiras, incluindo:
- Aplicações financeiras
- Seguros
- Planos de previdência privada
- Investimentos em ações
- Valores pagos por meio de cartão de crédito
- Movimentações realizadas por instituições de pagamento
Objetivos da fiscalização da Receita Federal
- Identificação de irregularidades: Um dos principais objetivos dessa iniciativa é permitir que a Receita Federal identifique irregularidades de forma mais eficiente. Ao ter acesso a um conjunto mais amplo de dados sobre movimentações financeiras, o órgão poderá cruzar informações e detectar possíveis casos de evasão fiscal ou outras atividades ilícitas com maior precisão.
- Efetividade no cumprimento das Leis Tributárias: Além disso, a medida visa conferir efetividade ao cumprimento das leis tributárias brasileiras. Com uma base de dados mais abrangente, a Receita Federal estará melhor preparada para garantir que os contribuintes estejam cumprindo suas obrigações fiscais de maneira adequada.
Compromissos Internacionais
- Padrão de declaração comum (CRS): A nova normativa também reforça os compromissos internacionais do Brasil no âmbito do Padrão de Declaração Comum (CRS, na sigla em inglês). Esse padrão, adotado por diversos países, visa promover a troca automática de informações financeiras entre jurisdições, com o objetivo de combater a evasão fiscal em escala global.
- Transparência nas operações financeiras globais: Ao alinhar-se com o CRS, o Brasil demonstra seu compromisso com a transparência nas operações financeiras globais. Essa medida contribui para a criação de um ambiente mais justo e equilibrado, onde práticas abusivas de evasão fiscal tornam-se cada vez mais difíceis de serem realizadas.
Evolução da fiscalização da Receita Federal
Controle e Fiscalização
A Receita Federal enfatiza que essas medidas visam aprimorar o controle e a fiscalização das operações financeiras de forma contínua. À medida que novas tecnologias e práticas emergem, o órgão busca adaptar-se e aprimorar seus mecanismos de monitoramento e coleta de dados.
Acompanhamento das Tendências Globais
Ao adotar essas medidas, o Brasil demonstra sua capacidade de acompanhar as tendências globais no que diz respeito à transparência fiscal e ao combate à evasão de impostos. Essa postura é essencial para manter a credibilidade e a eficácia do sistema tributário brasileiro no cenário internacional.
Impacto nas instituições financeiras
- Adaptação: As instituições financeiras tradicionais, bem como as administradoras de cartão de crédito e instituições de pagamento, precisarão se adaptar aos novos requisitos de declaração estabelecidos pela Receita Federal. Isso envolverá ajustes em seus sistemas e processos internos para garantir o cumprimento das novas obrigações.
- Investimentos em Conformidade: É provável que essas entidades tenham que investir em recursos adicionais para garantir a conformidade com as novas regras. Isso pode incluir a contratação de pessoal especializado, atualizações de software e infraestrutura de TI, bem como a implementação de controles e processos de auditoria interna.
Impacto nos Contribuintes
Maior Transparência
Para os contribuintes, essas medidas representam um aumento significativo na transparência exigida em relação às suas movimentações financeiras. Embora isso possa ser visto como uma invasão de privacidade por alguns, é importante ressaltar que a iniciativa visa combater práticas ilícitas e garantir a equidade no sistema tributário.
Maior cumprimento das normas
Consequentemente, os contribuintes precisarão reforçar seus esforços para garantir que todas as suas operações financeiras estejam em conformidade com as leis e regulamentos aplicáveis. Isso pode envolver a revisão de processos internos, a implementação de controles adicionais e a busca por orientação profissional, se necessário.
Desafios e preocupações da Receita Federal
Proteção de Dados
Uma das principais preocupações relacionadas a essa medida é a proteção adequada dos dados pessoais e financeiros dos contribuintes. À medida que a Receita Federal acumula um volume maior de informações sensíveis, será necessário implementar medidas de segurança para evitar vazamentos ou acessos não autorizados.
Custo de Implementação
Outro desafio a ser levado em conta é o custo de implementação dessas medidas, tanto para as instituições financeiras quanto para a Receita Federal. Podem ser necessários investimentos substanciais em infraestrutura, recursos humanos e capacitação para assegurar uma transição tranquila e o funcionamento eficiente do novo sistema.